quinta-feira, 27 de junho de 2013

Monossilábico



Nunca mais escrevi uma sílaba sequer de literatura.
Faz pouco tempo tudo era certeza, o universo tinha nome, estava em mim, até quando era nada.

Faz pouco menos tempo tive saudade.
Hoje fiz jorrar água dos olhos do chuveiro, tomei uns pingos de chuvisco, depois chuvisquei os olhos.

E, pela tarde, fez-se mar por entre as bochechas.
Vazio grande: casa branca, nau preta.

De noite, vi no escuro a caneta.
Escrevo por fim, em mim, tudo o que sou, e me dispo de toda virtude.
Sou eu, mas não o mesmo.

A falta de linhas na folha A4 me revela em semiótica alguém em profundo desgosto.
Resta saber: "a quê?"

Desgosto esgoto de mim.
Assim, bem radical mesmo.

(Escrito em meados de 2012, publicado hoje :)

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